terça-feira, 28 de agosto de 2012
Falando de fé
Fala-se muito de fé e sobre a fé em nosso meio, mas, afinal, o que é mesmo fé? O que precisamos conhecer de verdade sobre ela? Quando falamos sobre isso, é necessário considerar dois aspectos diferentes que estão interligados e não podem ser separados entre si.
De fato, se formos levar em conta a teologia na Idade Média, essa reflexão é confirmada. Tal teologia dizia que a fé indica as verdades em que se creem; e que, por sua vez, se professam pela fé; ao mesmo tempo, para indicar a atitude pessoal em que ela consiste, isto é, o abandono total e a confiança da pessoa no encontro e na comunhão com Deus. Esse último aspecto é o verdadeiro fundamento e a substância daquilo que chamamos de fé.
O primeiro aspecto é, em certo sentido, a consequência disso. Agora, como entender melhor tudo isso? Imagino o povo continuamente distraído pelas sequências de vida da sociedade. Como esse povo pode fazer uma experiência de vida diferente, concentrada em um abandono total a Deus? Como fazer o encontro e a relação com Ele no dia a dia do nosso cotidiano? Como entender melhor tudo isso?
A comunicação nos ensina que a melhor recepção das mensagens tem de partir da realidade e do contexto dos envolvidos. Nesse caso, dos fiéis. O Mestre Jesus nos ensinou muito bem, por meio dos Evangelhos, a opção do gênero literário mediado pelos exemplos, isto é, as parábolas. Eu também quero desfrutar essa linguagem da realidade para poder penetrar no grande mistério da fé na nossa vida.
Um jovem casal, com dois filhinhos, profissionalmente afirmado e com futuro mais promissor ainda, conduzia a vida normalmente, conforme os parâmetros de sucesso da nossa sociedade. Ah, sim, para melhor definir esse perfil, o casal, às vezes, tinha ainda um tempinho para ir à igreja, sobretudo por certas ocasiões sociais. Uma vida normal, conforme os dias de hoje. De repente, aconteceu aquilo que nunca se espera. Eles, acidentalmente, sem culpa nenhuma, perderam a filha menor. Uma desgraça que foi além da própria família. Parentes, amigos, conhecidos e colegas de profissão se sentiram todos abalados. Todos, por sua vez, tentavam mostrar a sua solidariedade, dando até conselhos mais impensáveis. Alguns, inclusive, chegaram a pensar coisas mais tristes, porque perder uma filhinha assim pode gerar somente desespero. Um túnel sem saída.
No entanto, o jovem casal enfrentou a dura realidade e se deixou questionar pelo dramático evento da vida que aconteceu com ele, isto é, não soube somente chorar, mas soube se interpelar. A linda filhinha, sim, morreu, mas ela se tornou mais viva nos dois, conduzindo-os para profundas reflexões; uma delas foi constatar como ele, casal, por exemplo, nunca tinha tempo para ir à igreja nem para rezar um pouquinho mais ou aprofundar mais sobre a própria conduta religiosa e familiar.
A partir do trágico episódio, o jovem casal começou a se colocar em questão. Daí em diante, com grande e resoluta firmeza, eles se engajaram mais na vida da igreja para promover a pessoa da fé. De fato, o casal não perde mais uma missa aos domingos, participa toda semana do estudo bíblico e é solidário com aqueles que mais necessitam.
O trágico evento provocou o casal a fazer uma experiência diferente, de confiança total na busca de Deus, porque viu que esta vida foge do nosso controle. Por isso, pude ver, nesse caso, como a fé se tornou operante, como esse casal soube reconhecer que não somos nós que garantimos a vida, embora possamos ter todo o poder e riqueza desse mundo.
Assim, começou no casal uma relação de confiança em Deus, mediado pelo encontro com Jesus. Tudo isso mudou o olhar deles sobre a realidade, a concepção dos valores, o mundo dos desejos e nada ficou como antes; a vida interior desse casal e mesmo o comportamento são submetidos a um processo de conversão. Portanto, esse processo de fé começou com o evento da vida (a história) e lhe permitiu favorecer o encontro com Deus por meio de Jesus, e de fazê-lo amadurecer numa relação mais profunda e continuada na vida do jovem casal. Essa experiência de fé, com certeza, abriu-lhe novos horizontes de vida, os quais, dificilmente, se podem entender sem essa ótica de conversão.
Enfim, Deus age na nossa história, nas nossas realidades, mas, ao mesmo tempo, também nós precisamos agir respondendo a essa ação. Sem essa colaboração, é difícil fazer uma experiência de fé, porque Deus pode agir, mas se nós não respondermos, tudo se torna em vão.
Padre Cláudio Pighin
Doutor em teologia, mestrado em missiologia e comunicação
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Resista
Resista mais um pouco,
apesar do latejar das feridas
e mesmo que a sua coragem esteja amortecida.
Resista mais um minuto
e não será difícil resistir aos demais.
Resista um instante mais,
mesmo que a derrota o atraia,
mesmo que a desilusão venha em sua direção.
Resista um momento a mais,
mesmo que a linha de chegada não possa ainda ser vista
mesmo estando as inseguranças a brincar de roda
ao seu redor.
Resista,
mesmo a vida estando pesada
como a consciência das pessoas insensatas.
Se você se sentir indefeso, tal qual um pássaro de asas machucadas.
Resista ainda,
porque o último momento da madrugada
é o que puxa a manhã pela mão
e essa manhã radiosa e ensolarada,
sem algemas surgirá para você em breve…
desde que você resista!
Resista sim,
pois estou aqui, sentado na arquibancada da vida,
torcendo para que você vença e receba
de Deus, o troféu que merece:
A felicidade!
terça-feira, 7 de agosto de 2012
O Sagrado Coração de Jesus ao mundo
O culto ao Sagrado Coração esteve presente já no início da Igreja, desde a Cruz, onde este divino Coração foi aberto para os fiéis como um asilo inviolável, sacrário das divinas riquezas, que derrama sobre nós as torrentes da misericórdia e da graça. Os maiores Santos de todos os séculos compreenderam o segredo desta devoção muito antes que ela fosse revelada de modo especial. Seu desenvolvimento é devido especialmente a São Bernardo, e também a Santa Matilde, Santa Gertrudes e São Boaventura; em seguida, pelos Jesuítas, pelo Bem-aventurado Henrique Suso, São Bernardino de Sena e sobretudo São João Eudes (1601-1680).

Depois das revelações do Sagrado Coração a Santa Margarida Maria Alacoque, a festa, aprovada por Clemente XIII em 1765 para algumas dioceses, foi estendida a toda a Igreja por Pio IX em 1856. Em 1899, Leão XIII consagrou todo o gênero humano ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Em 1928, Pio XI definiu a festa do Sagrado Coração como a característica de nossos tempos.
Lê-se na vida de Santa Gertrudes que, sendo um dia favorecida com a aparição de São João Evangelista, perguntou-lhe por que motivo, tendo ele descansado sobre o Coração de Jesus durante a Ceia, nada havia escrito para instrução nossa sobre os movimentos do divino Coração; e que o Santo respondera com estas palavras memoráveis:
“Eu estava encarregado de escrever, para a Igreja ainda no berço, a palavra do Verbo Encarnado; Deus, porém, reservou a suavidade dos sentimentos do divino Coração para manifestá-la nos últimos tempos, na velhice do mundo, a fim de reacender a caridade que arrefecer-se-á consideravelmente.”
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
O poder da palavra

Ouvi uma vez: “As palavras que emitimos são como penas sendo carregadas em um caminhão. Uma vez que foram espalhadas jamais se poderá juntá-las novamente. Uma vez uma palavra dita, jamais poderá ser cancelada”.
Uma vez emitido um comentário, jamais ele poderá ser desfeito.
Poderá ser explicado. Poderá ser elucidado. Poderá ser desculpado. Mas, nunca apagado!
Portanto, venho hoje falar sobre o cuidado que precisamos ter com as palavras proferidas por nós. Elas têm muito poder! Muito mais que a nossa possibilidade de visualizar isso.
Muitas vezes, movidos pelo ímpeto da velocidade que a juventude nos exige, pulamos algumas etapas na nossa comunicação, que teoricamente deveria ser: pensar para depois falar. Na pressa, no ímpeto de querer não perder tempo nessa vida tão acelerada, falamos para posteriormente pensar. E, tamanha não é a surpresa ao perceber que melhor seria se não tivessemos dito nada.
Se o objetivo deste texto é nos levar à reflexões, até aqui já teríamos com o que nos ocupar por horas pensando, certo?
E, foi o que exercitei durante as últimas semanas: a observação das minhas palavras e a forma como elas precisam ser revisadas, pensadas e extremamente bem avaliadas para que o arrependimento não seja como um carrasco a nos punir posteriormente. E, isso para uma pessoa tão agitada e ocupada como eu é algo extremamente difícil. Mas, eu precisava passar por isso porque em algumas situações, quando precisamos clarear alguns pontos em nossa vida, podemos errar muito mais do que corrigir os erros.
Porém, quero chamar a atenção para uma reflexão ainda maior; quando o nosso falar sem pensar envolve outras pessoas. Ou quando nos vemos, “forçados” por nossas razões, a não falar a verdade ou afirmar o que acreditamos ser a verdade, ou a nossa verdade.
O que encobre o ódio tem lábios falsos; e o que espalha a calúnia é um insensato. Proverbios 10,18
Jesus, Homem-Deus libertador, que se fez carne e habitou entre nós deixou claro que somente A verdade nos libertaria. E que Ele era essa verdade.
Uma verdade que nos pede que a justiça, a sensibilidade e a misericórdia sejam senhores de nosso coração e de nosso pensamento.
Tamanha era a força das palavras daquele jovem, Jesus de Nazaré, que em uma passagem do Evangelho, um homem, atribulado pela ânsia de um milagre diz: “Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar”.Mt. 8,8
Amemos o Cristo presente na figura do nosso irmão. Vejamos no outro, o Cristo que nos pede obediência a essa verdade que nos salva.
Que possamos nos alimentar da fonte inesgotável de amor de brota do Cristo-comunhão e permitamos que nosso coração seja uma peneira daquilo nossa boca apresentará ao mundo.
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